segunda-feira, abril 12, 2010

Melissa e Kapeller - 10



(Para ler ao som de Pyramid Song - Radiohead)

Quando entrei ele estava sentado num canto, murmurando algumas palavras que reconheci na mesma hora. Aquela já havia sido minha música favorita. Não era mais. Ele sorriu e se virou, sem parar de cantar...

"...black-eyed angels swimming with me...
...and we all went to heaven in a little row boat..."

- Eu nunca tinha percebido, Mel
- O que?
- O quanto ela fala de nós
- Você nunca foi muito dessas... Sutilezas... Ta tudo bem...
- Não! Não... Não faça isso...

Ele se levantou, veio na minha direção e tampou minha boca com os dedos, suavemente.

- Psiuu... Não faça mais isso, minha querida... Não diga mais que tudo bem... Você não precisa... Eu quero ser diferente, quero ser quem você espera.

Senti seus dedos escorregando pelo meu rosto até se afastarem de mim.

- Eu não espero uma cena montada. Nem essa trilha sonora... Nada disso faz sentido pra mim... Nada...
- Eu não montei nada, essa pra mim é a sua música... Eu precisava demais de você aqui, queria demais te sentir aqui... Mas, por favor, se não é isso que você quer... Que eu preciso fazer, Mel?
- Eu não sei, Chris... Acho que nada. Não mais...
- Mas você veio até aqui... Por que?

Como explicar o amor? É possível? É necessário? Mudaria alguma coisa para ele? Mudaria, principalmente, alguma coisa para mim? Como explicar a dor que ele me causou em todos esses anos de frieza, de solidão, de vazios? Como explicar cada palavra que me doía como uma punhalada? Cada rejeição?

Como explicar que eu ainda estivesse ali mesmo depois de tudo aquilo? Como explicar que eu ainda atendia aos chamados dele? Duas palavras dele mudavam anos de resoluções minhas? Eu me odiava por estar ali, eu me odiava, mas ali eu estava.

Ouvindo a música que eu me recusara a ouvir por anos, sentindo aquelas borboletas no estômago. As borboletas que eu esmagava uma a uma, com ódio, com desprezo. Mas que renasciam como mágica, com as magias que só ele sabia fazer. Como dizer tanta coisa pra quem significa tanto? Não. O silêncio falaria por mim naquele momento. Só ele, e Thom Yorke.

"...there was nothing to fear and nothing to doubt
there was nothing to fear and nothing to doubt
there was nothing to fear and nothing to doubt..."

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