segunda-feira, novembro 22, 2010

Prosa da separação - parte 5

Quatro anos e meio de relacionamento terminados num banco do playground do prédio. Como se fossem quatro meses. Eu me lembro do quanto olhei pro chão e não para os olhos dele. Me lembro nitidamente dos desenhos das lajotas no chão, mas não da expressão dele. A conversa mais amigável do universo, uma compreensão mútua de que aquilo era mesmo o melhor a ser feito. O melhor pra nós dois. Um beijo de despedida. Há coisa mais racional que um beijo de despedida? Mais uma vez, chorei porque achei que caía bem. Me sinto uma psicopata falando isso, mas não senti nada. Nada. Vazio. Talvez tenha feito o que ele não tinha coragem de fazer. Talvez tenha pego ele tão de surpresa que ele não reagiu. Não sei explicar, não tenho muito a dizer. Nos vimos de novo quando minha mãe morreu. Ficou ainda mais nítido naquele momento o quanto éramos irmãos e não mais namorados. Porque parece que ele sentiu aquela perda na mesma intensidade que eu senti. Foi muito importante tê-lo do meu lado naquele momento. Foi a última vez que nos vimos, também. A última lembrança é do final do enterro, dele abaixado junto ao túmulo da minha mãe, chorando copiosamente. Foi o último a sair de lá. Voltei para ampará-lo, largando a família meio perplexa à minha volta, incluindo o namorado da época. Foi uma perda conjunta, definitivamente. Um rompimento em dois atos.

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