quinta-feira, julho 16, 2009

Melissa e Kapeller - 6


Anotações de Melissa em seu diário em setembro de 1997...

“Ouvir ramos estrelejando e sentir aqueles cascos nas profundezas dessa floresta cheia de folhas, a alma; nunca estar inteiramente alegre, nem inteiramente segura, pois a qualquer momento o animal podia estar movendo-se; ódio que fazia-lhe sentir um doloroso arrepio na espinha; causava-lhe uma dor física, todo o prazer da beleza, da amizade, do bem-estar,de sentir-se amada...Tudo vacilava e pendia, como se na verdade houvesse um monstro a roer as raízes... E havia...”

(Virginia Woolf - in Mrs. Dalloway)
O monstro que me roía as raízes então já havia existido antes. E eu, inocentemente, achava que era algo novo, algo que eu houvesse criado, uma sensação unicamente minha. Mas ela era capaz de descrevê-la tão perfeitamente. Virgínia. Era como se traduzisse meus sentimentos, como se fosse capaz de tatear minha alma com as mãos e moldá-la em forma de palavras. Nunca estarei alegre por inteiro, nem totalmente segura. Não enquanto o monstro rondar por aqui. E acho que ele não vai desistir até me encontrar, e me roer, e me levar...

"Ele me esquecerá. Deixará sem resposta minhas cartas. Eu lhe mandarei poemas, talvez ele até responda com um cartão-postal. Mas é por isso que o amo. Proporei um encontro, numa esquina qualquer. Esperarei, e ele não virá. É por isso que o amo. Ele se afastará da minha vida, esquecido, quase inteiramente ignorante do que foi para mim. E, por incrível que pareça, entrarei em outras vidas. Talvez não seja mais que uma escapada, um simples prelúdio. Continuarei a deslizar para trás das cortinas, para o seio da intimidade, em busca de palavras sussurradas a sós. Por isso parto, hesitante mas altiva. Sentindo uma dor intolerável, mas segura de que vou triunfar nessa aventura após tanto sofrimento, segura, quero crer, de que no fim descobrirei o objeto do meu desejo."

(Virgínia Woolf)

“Já hoje me decidi - nunca mais me darei inteira.
Viverei em fragmentos sem muito amor
porque deles me restarão o mundo.
Pedi para que a paixão me deixasse e fosse encontrar outro fraco.
Descobri tardiamente que tudo era mentira.
Estava sendo enganada
O amor é uma idolatria
E como todas, aliena.
Quero tudo pouco para enxergar mais de perto a grandeza de existir.
Tirem de mim a carga de amar demais!”
(Virginia Woolf)

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