terça-feira, novembro 13, 2007

Perfieção

A perfeição é chata. Os versos milimétricos, as bailarinas que não têm piriri nem lombriga, nem medo de cair. Aquela pessoa que não erra, que não se assume humana. A roupa engomadinha, limpinha, a casa perfeita, imaculada. Pose pros outros, status quo do caramba. Coisa de engravatados, de cultivadores de gavetas narcisistas. Eu gosto mesmo é de gente que pulsa, que existe, que tem defeitos, um monte deles. Gosto de música desafinada, engasgada, emocionada. Gosto da Elis chorando, do Marcelo Camelo (Los Hermanos) desafinando e errando o acorde, gosto da Vanessa Krongold (Ludov) berrando de olhos fechados, do Nenê (Dance of Days) escalando o palco, se descabelando, perdendo o sapato... Até da Pitty arfando e de língua presa eu gosto. Me encanta a humanidade. Não quero ídolos, modelos a serem seguidos, quero pessoas como eu, que caem e levantam que se machucam e se frustram, e erram a letra, e encaram a personagem, e rastejam e choram. Quero o rímel borrado, de tanto chorar de felicidade. Nada mais chato do que o acabamento perfeito. Aquele photoshop disfarçando tudo. Quero meu cabelo revoltado pela manhã, minhas olheiras sem maquiagem, minhas orelhas de abano, tudo que não é modelo, não é padrão, mas que é meu... Meu desconhecimento de tantas coisas, ainda bem! Não quero saber de tudo não... Tenho tanto o que aprender... Quero ser eu mesma... Aquela de verdade, que sangra e sofre e ri e tem dias que não escreve uma porcaria só que preste. E tem dias que ganha o Pulitzer. E nem liga. Só liga o foda-se, sempre... Não quero saber tudo sobre tudo, quero poder aprender, ensinar... Quero a minha calça de barra por fazer, arrastada fielmente pela rua, atrás do meu all star vermelho e encardido, que conta mil vezes mais histórias do que o teu sapatinho de madame que não pisa na lama. Gosto de gente simples. Que se assume imperfeita, porque é assim que tem que ser. Arre! Basta de semi deuses, como disse o poeta. Que também errava, e como errava. E também buscava por gente de verdade nesse mundo certinho, politicamente correto, vendido, mundinho de aparências mais chato. Eita, e viva a revolta! Rasgue a fantasia você aí também.

"...Se o gramado ao lado
Todo esverdeado
Parecer melhor que o seu
Tome mais cuidado
Com esse mal olhado
Não venha cuspir no meu

Um olhar sobre o muro
Seu jardim já morreu
Deixe de ser tão inseguro

A casa está cheia de flores e você nem percebeu...

Não quero o seu conselho
Em mim mesmo me espelho
Não dou chance ao teu azar
Minha alegria
É saber que algum dia
Você ainda vai despertar

Um olhar sobre o muro
Seu jardim já morreu
Deixe de ser tão inseguro

De que vale plantar
Se você não colher?

É preciso esperar pra ver
Molhar, proteger
É preciso esperar pra ver
Brotar, florescer
É preciso esperar pra ver..."

(Gramado - Ludov)

Nenhum comentário: