quinta-feira, novembro 22, 2007

Força Naja!

Tarde de sol em São Paulo, quase raridade nesse novembro chuvoso e frio. Desço com o pequeno até o playground, nada mais justo. Até eu que sou meio avessa ao sol percebo a importância de tirar o moleque do apartamento um pouco. Tirar o mofo. Descemos. Poxa, o programa era descer no play. Entenda como pegar o elevador e ficar aqui mesmo pelo prédio. Claro que fui como eu estava, né. Calça de moletom azul da época do colégio, com a barra cortada, all star preto, meia rasgada e minha amada camiseta dos Comandos em Ação, também azul, mas de uma tonalidade mais escura do que a da calça. Sam Sam estava feliz e contente com suas roupas de ficar em casa. All star preto (yes - filho de pseudo-indie, pseudo-indie será), calça e blusa verde. Relax. Ele brincou o que podia no parquinho, escorregou algumas vezes, balançou outras, deu umas corridas por lá, encontrou florzinhas, coisas de sempre. Depois resolveu ir pra perto da piscina. Lá por perto também estavam três carinhas meio bombadinhos estendidos nas cadeiras tomando sol, rádio ligado no máximo na Jovem Pam (argh), cervejas em volta, parecia até fim de semana. Puff... Diga-me a rádio que você ouve e te direi quem és, meu bem... Já abri a redoma protetora da menininha nerd que sempre apanhava no Play. Fechei a cara, e fiquei ziguezagueando em volta de Sam Sam para que ele não se aproximasse demais. Acontece que sou discípula de Murphy, all right, e por conta disso é claro que ele foi parar lá no meio da playboyzada. Atiro a primeira pedra, sim. Tenho preconceito, sim. Gato escaldado. Conheço os tipos, sei de onde eles vêm, o que eles são capazes de fazer e sei todo o modus operandi. Humilhação, ofensas e etc. Não confio mesmo. Mas enfim... Lá estava eu em território inimigo, e cercada. Um deles ergueu os olhos pra mim por cima dos óculos escuros, e sorriu. Ok, meu amigo, não pense que vai ser assim tão simples, sei muito bem que tipos como você não sorriem pra tipos como eu. É simples, sobrevivência, selva, camarada, é a lei do oeste. Sorriu, é problema, tá rindo de mim. Mentalmente comecei a rever meu vestuário, o cabelo, claro que estava tudo errado para o que ele talvez considerasse normal, mas o que poderia estar chamando a atenção dele? "Rá!" ouço numa voz meio esquisita, quase esganiçada. "Comandos em Ação, cara! Que maneiro!" O encaro de volta. Cerco completo, os outros dois me enxergam, me medem, cabeça aos pés, encontram o motivo do comentário, riem ao mesmo tempo. Mas que droga. "Muito maneira tua camiseta!" Acho que balancei a cabeça, mas foi pra procurar meu filho. Seguro Sam Sam no colo, ok, já chega, basta amiguinhos, a nerd se retira, bravamente. Chego a ouvir um côro do tipo G.I. Joe! E mais gargalhadas, mas já estava leio longe. Batalha perdida, nerdzinha querida, não foi a primeira, não vai ser a última. Não leve pro lado pessoal menina, deixe de lado essa idéia de que eles riem de você. Não é mais isso. Não mais, ok? Agora não mais. Sensações meio ruins pairando como nuvenzinhas. Racional e emocional traçando diálogos esquisitos. Lembrando de cenas que eu não gostaria mais de lembrar. Pelo menos saí sem nenhum arranhão. Saímos, filho. Olho pro meu pequeno. Apesar de tudo, quero muito que ele seja como eu. Mais espertinho, talvez, mas ainda assim como eu. Camiseta do G.I. Joe e tudo. Sem Jovem Pam, sem risos, sem bulling. Versão melhorada, quem sabe, né? Vou torcer. Torço pro meu filho saber se virar melhor do que eu. Nossa. Não quero que ele sofra... Mas ele vai se dar bem sim, que o guri é tarrudinho e marrento, tem personalidade... Vai quebrar playboy em dois pedaços... rs... Ai ai... Espero...

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