quarta-feira, outubro 31, 2007

Fallen Angel

“Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante?” (Isaías 14:12)

Foi por cobiça. A cobiça o fez cair nesse mundo. Foi por orgulho. Porque ele sabia que merecia ocupar um lugar mais no alto, mais adequado ao seu perfil. Quem diz que ele não tinha carisma não imagina o quão sem graça eram os outros anjos. Inteligente, até demais. Não era humilde mesmo, e nem modesto, achava que isso era para os fracos. Talvez esse tenha sido seu maior pecado. Talvez se fosse um pouco mais humilde ele pudesse reconhecer que haviam outros tão inteligentes quanto ele, embora voltados para outras causas. Rebelde? Talvez. Precipitado? Bem provável. Porém muito determinado, envolvente, coerente, hábil com as palavras e com as atitudes. Carismático era uma ótima palavra para descrevê-lo. Pouco a pouco, convenceu outros querubins iguamente insatisfeitos sobre a nobreza de sua causa. Formou uma equipe, mas é mais bonito chamar de horda, porém, foi logo descoberto. Os puxa-sacos, nessa hora, sempre levam uma vantagem. Sabem de tudo, porque têm acesso a tudo, espreitam pelos cantos. Difamam. Jogam mais pesado, porém, em geral, ficam com a fama de bonzinhos porque sempre afirmam estar do lado da ética. O céu tinha um desses, o tal do arcanjo Miguel. Braço direito do Chefe, engomadinho, todo ponposo lá com seu sabre azul... Mas nem por isso ele era melhor, nem pior, do que Lúcifer. Miguel também estava lá, entre as cabeças, também queria um lugar de destaque. E quem não quer? Mas ele não teve muitos escrúpulos não... Apontou o dedo ao "traidor", meteu-lhe um belo pé na bunda e ganhou a fama de gostosão por toda a eternidade. Fez a fama e deitou na cama, ficou conhecido como chefe maior dos celestiais. É, crianças, nem sempre o mundo é justo, e nem sempre as histórias são exatamente como nos contam. Vai saber se o tal arcanjo era assim tão boa gente? Só porque era anjo? Anjo por anjo, o nosso Fallen Angel também não era um? Mas sabem, nem sempre o inferno é assim tão ruim. Ah, não é mesmo...

"...A mente é um lugar em si mesma,
e pode fazer do inferno um céu
e do próprio céu um inferno.
Que importa onde, se serei ainda
O mesmo, e o que deveria ser?
Aqui, pelo menos, seremos todos livres. (...)
Poderemos reinar em paz
e penso que reinar das ambições é a maior.
Ainda que no inferno.
Pois é melhor reinar
No inferno do que servir no céu."

(John Miltom - Paradise Lost)

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