quinta-feira, junho 21, 2007

Yellow Submarine



Atendendo a pedidos (por que diabos vocês vem até aqui e comentam por e-mail seus desnaturados!) vou detalhar mais a história do pedestal-mor.

A questão não é estar apaixonada. É lógico que não estou, longe de mim. Não por ele. A desgraça é a sensação de se ter um pedestal, que me agrada muito. Quando estou num relacionamento estável, tranquila e absolutamente feliz e realizada, como agora, sinto falta das dores e delícias de ser creep. Terrível, né? Não é da pessoa que sinto falta, é daquela sensação dolorida/divertida.

Sei que é maluquice, mas acho que não tem cura, fazer o que?

E ele está longe, bem distante mesmo, fora do país. Casado, assim como eu. Nada nada nada NADA a ver mesmo.

Mas vocês querem a história, né, bando de sádicos... Essa é complicada. Ele é a minha paixão de criança, sabe? Desde uns 10 anos. Era ele. The chosen one. Ele é uns dois ou três anos mais velho. Crescemos juntos, brincávamos juntos, passávamos as férias juntos.

Era um menino diferente, que me dava atenção e conversava comigo. Não era da escola, portanto não me achava nerd. Porque fora da escola eu era diferente pacas. Me abria mais. Não era tão freak. Sei lá, acho que me fechei na escola por conta de vários motivos... Mas essa fica pra outro post.

Enfim, era por ele que eu suspirava quando criança. Continuou assim na adolescência, até que ele arrumou uma namorada. Sofria horrores, chorava, achava que eles iam se casar.

Mas ele queria ser pedestal. Adorava. Incentivava a minha paixonite. Eu escrevia cartas de amor para ele, sonhava acordada, comprei o perfume dele e passei em todos os meus bichinhos de pelúcia e ficava lá sonhando, chorando. Quando passava na rua dele de carro com o meu pai o coração acelerava. É sério isso.

Éramos até que próximos. Se já existisse internet ele tinha virado meu namorado. Porque escrevendo, meu bem, não há concorrência para Kath. Mas ao vivo eu sempre fui pata choca.

A gente se falava pelo telefone. Quando ligava pra ele fazia listas de assuntos para não ficar sem falar nada. Era ridículo. Quando ele ligava meu coração quase saía pela boca e eu não conseguia falar nada. Ele sabia que eu era doida por ele e sempre me mandava cartinhas, cartões, escrevia nas minhas agendas de adolescente, me tratava como a melhor amiguinha, estávamos sempre juntos e tal.

Ah, sim, no telefone ele sempre desligava dizendo que me amava. "Beijo, tchau" "tchau... te amo..." Sempre tinha alguns segundinhos entre o tchau e o "te amo". E eu me arrepiava inteira, da cabeça aos pés. Eu tinha muita vontade de dizer que o amava, mas não conseguia responder, não tinha coragem. Um dia quando ele falou "te amo" eu disse "eu também"... Ele ficou mudo, não desligou... Fiquei ouvindo a respiração dele do outro lado e ele a minha. Depois ele riu. Não riu de mim, riu de feliz. "Que bom...", ele falou. "Que bom saber..." e desligou.

Ele era mau. Cruel, até. Nas férias, namorando, não desgrudava de mim. Fomos para a praia e a namorada não foi. Teve que fazer vestibular. (ela era um pouco mais velha). Eu passava horas fazendo cafuné no cabelo dele, e ele no meu. Deitávamos nas pedras olhando as estrelas. Ia com ele no orelhão ligar pra ela. Andávamos de mãos dadas. Mas nada aconteceu entre nós. Nunca. Cheguei a mentir para algumas amigas dizendo que já tínhamos ficado porque tinha vergonha de dizer a verdade.

Mas o mundo gira, minhas amigas. O namoro dele acabou. Ele sumiu um pouco, já não nos encontrávamos mais nas férias. Eu cresci e comecei a namorar também. Lembro até hoje do dia em que a minha prima me ligou dizendo que ele queria ficar comigo, que tinha conversado com ela, contado coisas. Mas pra mim já era tarde.

Daí quando ele realmente me quis eu estava em outra. Ele chegou a aparecer na porta da minha casa num aniversário meu com um buquê de rosas vermelhas nas mãos. Ajoelhou aos meus pés e disse que queria me namorar. De verdade. Nem nos meus mais românticos pensamentos eu imaginei que viveria uma situação dessas. Não com ele. Mas já estava cansada de ser feita de boba. Então eu tive o imenso e sádico prazer de dizer NÃO, OBRIGADA... Quer dizer. Fiquei com as flores, mas não com ele.

Tenho uma foto desse dia. Eu, ele e as flores. Ele com uma cara de frustrado e eu sorrindo. Nesse dia o abracei tão forte. O perfume nunca mudou. Como alguém consegue usar o mesmo perfume dos 12 aos 20 anos? Até hoje de vez em quando sinto esse perfume por aí...

Eu tinha 17 anos, faz mais de uma década. Nos vimos poucas vezes desde então. Ele ficou magoado, acho. Sentiu na pele. Daí ele sumiu, desapareceu mesmo. Não havia google que o encontrasse. Ninguém sabia do paradeiro dele. Achei que tinha morrido. Sério.

Não tinha coragem de perguntar pra ninguém por achar que iam pensar que eu ainda não tinha superado a paixão.

Mas ele me procurou. Faz alguns dias. Por um triz não deleto o e-mail. Mas uma luzinha se acendeu quando li o nome. Daí o frio na barriga. Não é todo dia que mortos revivem. Definitivamente. Ele tá bem, que bom, isso é o que importa. Foi uma pessoa importante na minha vida, um resgate do meu passado, do que eu fui e do que me fez ser quem sou eu hoje.

O título do post é porque ele sempre amou Beatles e Raul. Sempre estava cantarolando alguma coisa deles. Cantou algumas pra mim, mas essa é a que me pega. Se algum dia o pedestal-mor da sua vida cantarolar essa música enquanto faz carinho na sua mão em uma noite estrelada na praia você vai entender. Ah, vai sim.

"As we live a life of ease
Everyone of us has all we need
Sky of blue and sea of green
In our yellow submarine
We all live in a yellow submarine
Yellow submarine, yellow submarine..."

Nenhum comentário: