quarta-feira, dezembro 17, 2008

O mais piegas dos textos sobre paixões platônicas

(texto vindo de algum lugar de abril de 2008)

Melissa poderia descrever exatamente o momento em que se apaixonou por aquele garoto. Poderia falar da cafeteria lotada de pessoas sem importância e que conversavam sem parar, do cheiro predominante de pão assando, do vapor do café expresso que de tempos em tempos dominava o balcão. Poderia descrever o mau humor habitual dos atendentes, sempre tão ranhetas, os pensamentos distraídos dela enquanto se plantava logo atrás dele na fila, sem sequer notá-lo. Mas nada faria grande diferença. Era só moldura pra cena que viria a seguir. Ele se virou, assim, sem motivo aparente, somente olhando em volta mesmo, e a cumprimentando, por tabela, como cumprimentaria qualquer pessoa que estivesse atrás dele naquela fila imbecil. Mas naquele momento o mundo todo entrou em slow motion. As conversas animadas que aconteciam em volta se transformaram em ecos distantes, as imagens desfocaram, e ela só enxergava um sorriso (ele sempre sorria assim, sem motivo?) os cabelos ainda meio molhados. E os olhos brilhantes. Os olhos. Que lindos olhos! Eram de uma cor inexplicável mesmo. Foi tão forte o baque, que ela se perguntou como nunca antes havia notado aquele rapaz. Quer dizer, na verdade já havia notado sim, aqui e ali, como se nota qualquer pessoa que se vê de vez em quando pelas redondezas. Mas não daquele jeito. A reação não poderia ser outra. Ou poderia? Não a dela. Simplesmente, como sempre acontecia diante dessas sensações que lhe tiravam o fôlego, ela travou. Tela azul. Bug. Fail. Não houve reação. Não sorriu, não esboçou qualquer resposta ao sorriso mais lindo da última semana. Simplesmente baixou os olhos, séria, inexplicavelmente concentrada no dinheiro que trazia apertado entre as mãos. Por pura, total e completa covardia, ela agiu como se acordasse sempre diante daquele menino bonito. Pior: agiu como se acordasse sempre MAU HUMORADA diante daquele menino bonito. Mas por dentro, uma evolução acontecia. Sentiu-se corar enquanto observava ele pedir um trivial leite com chocolate. Arriscou um olhar rápido e pôde confirmar que ele era o cara perfeito, a tradução literal daquilo que ela sempre descrevia como "seu tipo". Lindo, lindo, mil vezes lindo. E ela ali, precisando que alguém apertasse ctrl+alt+del pra poder voltar a fingir que respirava. E nada. Nada vezes nada. Sempre assim. Ela sempre reagia com indiferença diante das pessoas que mais admirava, que mais desejava. Era um mais que perfeito plano de defesa. Eram cercas vivas e espinhosas que se erguiam entre ela e seus objetos de desejo. Desde sempre. E então ele se foi, carregando um pão de queijo e um leite com chocolate. E trocou umas palavras sobre algum assunto cotidiano com as pessoas sem importância. E enquanto ela parecia sentir seu coração batendo forte em algum lugar de seu esôfago, ficou lamentando ter perdido a oportunidade de estabelecer um contato social minimamente aceitável com o menino bonito. Derrota. Mas essa seria a primeira entre tantas oportunidades, ela só ainda não sabia disso.

Um comentário:

Blue disse...

*__*

Ah! vai escrever um livro e para com isso!
De pouquinho em pouquinho, não vale!

Faz a gente apertar o coração e perder a esperança...

Mais!!!! Eu quero MAIS!
oras! hunft!