terça-feira, dezembro 11, 2007

Cinco

"..Como chegar para alguém e dizer de repente eu te amo para depois explicar que esse amor independia de qualquer solicitação, que lhe bastava amar, como uma coisa que só por ser sentida e formulada se completa e se cumpre? Pois se ninguém aceitaria ser objeto de amor sem exigências..." (Caio Fernando Abreu)

Ele a encarava com aquele olhar indecifrável. Era sério demais às vezes, e ela tão boba, rindo a toa. Ele também ria, claro, também brincava, mas em alguns momentos aquela seriedade a desconcertava. Seria timidez? Que se passava ali? Receio? Julgamento? Ele a observava. Cada movimento. Sentado diante dela na mesa, no elevador, pelos cantos daquele quarto, pelo reflexo no espelho, enquanto caminhavam, ele sempre a fitava. Ela tentava juntar as peças todas daquele quebra cabeça, sem sucesso. Sentia aquele olhar mesmo sem vê-lo diretamente. Era forte a sensação de ser observada por ele, mesmo que esquivamente. Ser estudada daquela forma, quase despida, só com os olhos. Depois era ela a dona dos olhares oblíquos. Injustiça completa... Tinha certeza de que poderia esquecer de tudo aquilo, daqueles abraços, daqueles beijos, do cheiro, do toque da pele dele, até de sua voz, já tão familiar. Mas tinha certeza que nunca esqueceria daqueles olhos. Ele parecia mergulhar nela, na verdade. Parecia buscar sua essência, decifrá-la, procurar por tudo o que era inerente ali, mas não aparecia assim tão facilmente. Ele parecia tentar achar seu verdadeiro eu. Aqueles olhos castanhos, meio puxadinhos, pequenos e tão misteriosos, quase desconfiados, a derrubavam, faziam dela o que eles quisessem fazer. Estava entregue, era propriedade dele já. Mesmo sem comprender muito bem, mesmo sem saber direito as intenções que guardavam, as sensações que tinham, ela já o amava daquela forma, e amava por amar, sem perguntar se ele aceitaria ou não ser amado, se compartilharia daquele sentimento todo. Só queria poder se dedicar àquele sentimento e a ele com todas as forças que tinha, e era o que fazia agora, e o que faria daqui pra frente, quem sabe até quando, muito provavelmente até quando ele permitisse... E que fosse por longo tempo...

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