sábado, novembro 10, 2007

Ventura

Segurou, finalmente, as mãos dela. Era a primeira vez que aquelas mãos se encontravam. Tomou-as entre as suas com delicadeza e doçura. Aquelas mãos pareciam ter sido feitas para isso, afinal. Para estarem ali, entre as dele. Amparou-as com zelo, dedicação e cuidado. Entrelaçou seus dedos nos dedos dela. Ambas estavam tão frias. Suavam frio. Tinha vontade de aquecê-las. Seria capaz de passar horas e horas ali, segurando aquelas mãos, sentindo a textura de sua pele, observando cada dedo, tentando definir a cor das unhas, a combinação de tintas que se fizera para alcançar tal tonalidade, nem vermelho, nem castanho. Seriam cor de café? Desejava permanecer ali, parado, estagnado, congelado naquele momento tão necessário, somente apreciando a sensação de tê-la ali, tão perto, tão próxima. Algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão notável. Gesto tão banal, tão comum, frívolo até. Mas que naquele momento adquiria importância tão monumental, caráter tão essencial. E por si só bastava. E era só o princípio de tudo, e ainda haveria tanto mais...

"...Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho,
tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado,
está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário,
e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos,
os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios,
tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz ..."

(Chico Buarque - Dueto)

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