quinta-feira, novembro 01, 2007

Campeão dos Campeões

"...E no ar pairava um forte cheiro de pólvora de foguete e pó-de-arroz. Nada mais me restava a não ser filosofar: "Não se pode ganhar sempre..." (Leminski - trecho da crônica "Uma declaração alvi-verde por um poeta atleticano" - por favor, cliquem aqui e leiam inteira! É maravilhosa!)

Mas eu queria falar de futebol. Acreditem, eu não tenho culpa de ter nascido em um lar corinthiano. A febre, a doença, o tal do sangue alvi-negro, não veio de pai e mãe, só. Vem dos meus avós.

Vô Ivo, mesmo tendo nascido na Itália, nunca deu muita bola para o velho Palestra, para horror de seus familiares. Uma das recordações que guardo dele é um chaveirinho com o mosqueteiro do timão e uma carteirinha plastificada "Corinthiano Roxo".

Uma das principais informações que tenho de Vô Laio, que não cheguei a conhecer, era de sua paixão incorrigível pelo Corinthians, e o desgosto de ter quatro filhos palmeirenses (só meu pai seguiu a escolha do meu pobre avô).

E assim esse gene corinthiano foi passando, chegando até a mim. Minha mãe, sempre tão pacífica, era tomada por uma espécie de fúria em dias de jogos do nosso Corinthians. Bradava palavras de baixo calão pela janela, bandeira em punho. Era como um transe de 90 minutos, mais uns 15 de intervalo.

Até hoje falar de futebol com meu pai é uma das formas de vê-lo mais leve, mais tranquilo, é como se fosse a nossa ponte secreta, aquilo que nos aproxima e identifica um pouco.

Na época do colégio, frequentava os treinos no Parque São Jorge. Me apaixonei (platonicamente, é claro - uma vez loser, sempre loser) pelo Zé Elias, o volante mais talentoso e gato daquela época (idos de 1995). Costumava ir com minha melhor amiga e o irmão dela pro Pacaembu. Lá, devidamente instalada no meio da Gaviões da Fiel, cantava o hino de cabo a rabo, pulando sem parar.

Ia pra escola com a camisa do Corinthians por baixo da blusa do uniforme. Até o meu primeiro beijo tem a ver com o Corinthians. Aconteceu ali, na porta do Parque São Jorge. O rapaz em questão jogava no time de juniores, e nós namoramos alguns meses, até que ele foi transferido pra outro clube do interior e eu não tive mais notícias.

Mas aí o Zé Elias foi embora pro exterior, o namorado me deixou, a escola acabou, a melhor amiga sumiu, o RPG voltou, mais forte do que nunca. E deixei meu Corinthians ali, meio de lado. Mesmo que hoje meu coração não bata tão forte pelo timão como batia na minha adolescência, ser corinthiana é algo que trago comigo, mais um daqueles mihões de pedacinhos que me fazem ser quem eu sou hoje.

Não sei qual vai ser a escolha de Samuel, que tem um pai são-paulino e um avô palmeirense. Resolvi permanecer neutra, para que ele não use a mesma desculpa que eu de ter virado corinthiano por ninguém ter lhe dado outra opção... Mas que eu acho que meu pai vai tentar convertê-lo rapidinho, ah, isso eu acho... Rs...

"Por que será que eu gosto de sofrer?
Vai ver que agora eu dei pra masoquista
Meu amor branco e preto
Às vezes me deixou na mão.

Mas eu gosto de você
Já não me importa a sua ingratidão
Sofro mas continuo a te adorar
Corinthians meu amor!
Corinthians!"

(Rita Lee - Arnaldo Baptista - Amor Branco e Preto)

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