sexta-feira, agosto 03, 2007

Das unhas descascadas ao desaparecimento de Sarah*

Eu simplesmente odiava aquela menina. Odiava e amava, porque ela simplesmente era tudo o que eu sempre quis ser. Escritora de sucesso, linda, famosa, desejada e tatuada. Conhecia as melhores bandas, tinha os amigos mais divertidos, o cabelo mais lindo, era magra e sabia escolher roupas como ninguém. Era cantora, guitarrista, desejada, requisitada, amada. Bela droga.

E aquela pele dela? Como ela conseguia ser tão linda? Eu nunca via as unhas dessa mulher descascadas, meu Deus! Deus? Tem alguém aí? Como podem deixar vir ao mundo uma mulher linda, inteligente, gostosa, antenada e com todos os acessórios de fábrica? Não, não pode, não dá! Não há concorrência que resista!

Enquanto isso, no mundo real, lá estava eu, escrevendo notinhas de coluna social, arrancando o esmalte da unha com os dentes, usando minha calça jeans sem caimento e o all star de sempre. Tá, esse variava. Podia ser vermelho, preto ou cano alto, mas sempre all star.

Meu cabelo? Tudo o que qualquer cabeleireiro da esquina poderia fazer por você. Inclusive porque o meu cabeleireiro ficava na esquina. “Meu“ cabeleireiro o escambau, porque eu cortava o cabelo com quem estivesse menos ocupado na hora, que era pra não demorar muito.

O cabelo eu também pintava, mas era com tonalizante, em casa. Eu sempre afirmava: “dessa vez vou conseguir!”, mas na verdade o que conseguia era um belo cabelo manchado. Fazer o que, né? Não se podia ganhar todas. E perder todas, podia?

Bom, o que importa é que havia mais nela, minha ídola, do que a aparência e a inteligência. O que pegava mesmo era a atitude, sabem? Uma atitude que eu nunca conseguia ter. Nem nunca conseguiria. Era natural dela. Ela era capaz de fazer coisas que se eu fizesse pareceriam ridículas.

Ela era determinada, autoconfiante e perfeita. Eu era completamente insegura, não levava nada que fazia até o fim e ainda carregava nas costas centenas de milhares de defeitinhos dos mais insignificantes aos mais tenebrosos. Triste. Sim, eu sabia que ela tinha seus defeitos também. Mas sei que ela conseguia lidar com eles mil vezes melhor do que eu. Como sempre.

Ah, e tínhamos mais em comum. Muito mais. A idade, para meu desespero, já que eu sempre pensava: diabos, ela viveu o mesmo tanto que eu e já foi tão além, como eu conseguia perder tanto tempo? A cidade, São Paulo, que não era nossa cidade de nascimento, mas a que nós duas escolhemos pra viver.

A profissão, repórter, e a inevitável e incontrolável paixão por escrever como se não houvesse amanhã. Tinha outras coisinhas também. O fato de nos apaixonarmos por alguém diferente a cada semana, muitas vezes a distância, platonicamente. Sim, porque apesar dessa devoção toda por ela eu ainda gostava de meninos. Gostava e me apaixonava por eles, freqüentemente, diariamente. Até tive vontades de experimentar as meninas, mas a coragem faltou. Pra ela não faltaria. Nunca.

Já mudei de assunto de novo. Droga. O que importa é que ela tinha um blog. Na verdade eu a conheci pelo blog. Entrei na página por acaso, mas aquilo que li foi o bastante para pirar. Pirei e li. Li tudo o que havia naquela página, todos os arquivos, e queria mais. Diariamente minha vida consistia em acordar, tomar um gole de café amargo, ligar o computador e ler o blog da Sarah.

* Sem começo, sem fim, como sempre... Um trecho de alguma coisa sem nexo que de repente podia até virar um trecho de livro... Podia...

3 comentários:

Lelé disse...

Oi, Kath!
Pô, fiquei felizona em saber que vc passa lá de vez em quando...acho que nem eu estava passando lá. Mas quem sabe agora eu volte a escrever - afinal de contas, quando eu fico triste eu escrevo mais.

As coisas não andam as mil maravilhas, mas eu não posso me queixar, não. Quem sabe um dia eu mude de profissão e passe a ganhar dinheiro de verdade, né?
Por enquanto, eu vou fazendo o que gosto - e que não dá dinheiro nenhum...

Bjo

Lelé disse...

Então... é que esses fuscas só aparecem de quatro em quatro anos. E eu estava esperando pelo fusca azul há oito anos....

No momento, até que não tá doendo tanto porque eu acabo de saber que vou pra Espanha um mês antes de fazer a viagem da minha vida.

Mas eu acho que esse Fusca azul ainda vai me machucar muito se for tirado de mim.
Bjo

PS: BTW, vc continua escrevendo bem. Nenhum plano pra um livro?

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