quarta-feira, agosto 01, 2007

O retorno do carrasco

Chega, Melissa, chega. Basta de querer voar. Corto suas asas de borboleta com tesoura. Vai doer. Não sei dizer isso de um jeito bonitinho. Sou sua consciência lembra? Não adianta fechar os olhos nem tampar as orelhas, babe... Vou estar sempre aqui e você sempre vai me escutar, queira ou não queira. Se arrependeu dessa tatuagem, né? Você deveria saber. Deveria entender que o amor é uma coisa boba e efêmera. Já tem idade pra isso, menininha. Por mais que você finja que ainda pode andar por aí com seus cabelos coloridos e essa meia arrastão. Não. Tá na hora de parar de comer esse esmalte preto. Tá na hora de arrumar essa janela quebrada e trocar as lâmpadas queimadas. Quanto tempo faz que elas queimaram? Nem você sabe, né? Não adianta virar o rosto, elas vão continuar lá. Esse cheiro de azedo também. Você também sabe de onde ele vem, não sabe? Tem medo de ver, mas ele está lá. Um rato morto, esquecido na despensa. Faz tanto tempo que você não sorri. Faz tanto tempo que não passo as mãos nos seus cabelos. Faz tanto tempo que você não... Sabe de uma coisa? Vou afrouxar um pouco essas algemas. Quem sabe deixar papel e lápis aqui, pra você rabiscar mais uma daquelas suas poesias fracas. Assim, está bem melhor, não é meu amor? Por onde será que seu novo príncipe anda? (gargalhada) Primeiro, um príncipe mariposa. Agora, um príncipe palhaço. Sua cara. Pobrezinha. Esqueceu de crescer. Quando você vai ver que tem que se salvar sozinha, Melissa? Melissa? Dormiu. Pobre criança.

"O primeiro personagem que um escritor cria é ele mesmo. Só os imbecis procuram um eu atrás do texto literário. Em literatura, a própria "sinceridade" é apenas, uma jogada de estilo. Um escritor medíocre não consegue ser "sincero"." (Paulo Leminski)

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