quinta-feira, setembro 18, 2008

Rosas

Eu espero demais das pessoas. Sempre e sempre. Espero atitudes, espero opiniões, espero que se expressem, espero que tomem a frente, que se mexam, que façam acontecer, que me surpreendam! Mas claro que nem sempre é assim. Cada qual com seu ritmo, cada um com seu movimento próprio e tão particular. Mas eu me frustro um pouco. Sem razão, eu sei, porque não tenho o direito de querer controlar o que as outras pessoas fazem. Porque não posso basear minha satisfação, minha sanidade, minha tranquilidade numa reação de outro. Além do mais, cada um certamente deve ter seu motivo para agir e reagir de tal forma, para responder de certo jeito ou de outro. Mas é difícil esse processo de me desligar disso. Sou controladora, quero que tudo aconteça da minha maneira. Também fantasio muito, moldo as pessoas da forma que eu acho que elas são, então quando me deparo com o real, às vezes é complicado lidar... Mas estou trabalhando, devagarzinho... Admitir onde estou errando é um grande passo, eu acho. É engraçado, parece que as respostas que eu cobro, são minhas mesmo, ou pra mim. Cobro aceitação, cobro retorno de sentimentos, de dúvidas, de preocupações. Quero retorno na mesma intensidade, e isso não existe... Cada um, cada um. Ainda bem, na verdade. Só quero ter calma. E, por agora, um pouquinho de Adélia Prado.

à beira de um poema

Podei a roseira
no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira
constelada,
os botões,
Alguns já com rosa- pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se
diante do recorrente milagre.
maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro

(Adélia Prado)

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