sexta-feira, julho 04, 2008

Deserto

"A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. (...) Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra (...)"

É lá que eu trabalho. No deserto. De vez em quando, um olhar especial brilha pra mim, e eu sinto que não estou sozinha, não. E eu não preciso muito mais do que isso. Olhar e sorriso, e saber que não é tão solitária assim a tal da jornada.

"Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las."

Claro que reconheci. O problema é que eu nunca sei se eu corro dele ou pra ele, mas não fico indiferente. Nunca. O coração sempre vem até a boca e depois volta pro lugar. Sei lá porque. E isso é lá o tipo de coisa que se explica?

"Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois."

Porque não chegava mais a ser coincidência, mas também não era combinado. Assim como não era evitado. Sincronia é mais legal que coincidência. Porque era isso que rolava. Sintonia.

"E perdidos no meio daquilo (...), para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam."

Continua...
Pelo menos, eu acho...

(aspas de Caio Fernando, ousadamente "completadas" por mim)

3 comentários:

fabiana jardim disse...

Ai, Kathy...Sabe que dos Morangos Mofados, esse é um dos meus contos prediletos? Adoro-adoro-adoro...

renata penna disse...

bom, Caio, né? precisa dizer? Caio + Kathy então... covardia.

Rosana Oshiro disse...

Nossa Kathy!!!
Quanta inspiração, quanto desabafo, quanta poesia!
Continue... continue...
Vou passar aqui depois pra continuar lendo.
bjs
Rosana