quarta-feira, julho 30, 2008

13 anos

Hoje na terapia, me enxerguei novamente aos 12, 13 anos. Aquela menina estranhinha e calada, que não sabia o que fazer para disfarçar as espinhas no rosto, que se achava gorducha e desajeitada no uniforme que em nada favorecia as pernas grossas e que tinha um jeito meio desengonçado ao andar. Aquela menina que cultivava paixões platônicas e impossíveis, pelo garoto mais bonito da escola que mal sabia de sua existência, pelo amigo mais velho que ja tinha namorada, pelos ídolos inatingíveis do voleibol e do futebol. Me vi ali, achando que tudo era impossível, que eu não era merecedora mesmo. Mas não era triste, pelo contrário, me satisfazia nos meus platonismos, nas minhas ilusões, sonhando acordada, suspirando e criando cenas dentro da minha cabeça, onde nada de errado acontecia, onde eu sempre sabia o que dizer e onde eu era sim inteligente, interessante, bonita e agradável. Tinha meus momentos de choro e decepção, mas no geral era sim feliz, e me protegia, fechada na conchinha, das tempestades, dos maremotos, ficava a observar a vida sem exatamente participar dela. Esperava que num momento mágico algo simplesmente acontecesse, sem que eu tivesse necessariamente que interferir naquele momento. Não acontecia, claro, mas era bom imaginar meu conto de fadas.

A menina cresceu um pouquinho. Não tem mais espinhas, mas se tivesse já saberia exatamente o que fazer para disfarçá-las. Ainda se acha meio gorduchinha, mas sabe valorizar melhor o que tem de bom e de ruim nesse corpo que não é nem nunca vai ser de modelo da revista, mas também é bonito, a seu jeito, do seu modo. Mesmo crescida, ela ainda anda de um jeito meio desengonçado, talvez por isso prefira um all star ou tênis desses bem confortáveis a um salto alto. Mais estilo e conforto, menos tipo. Essa é a filosofia. Ah, e as paixões platônicas? Dessas nunca se curou. Escolhe os mais difíceis, os mais distantes, talvez justamente para não correr o risco de alcançá-los. Auto-boicote? Talvez. Em nome da segurança, de se ter certeza de onde está pisando. Também, é claro, por não achar que mereça. Muita areia pra esse caminhãozinho, né? Será? Daí quando o impossível parece menos comlplicado, quando aquele cara lindo desce de seu pedestal e sorri, o bicho pega mesmo. Com sua zona de conforto alterada, perde a cabeça mesmo. Pega de surpresa sem antes escrever seu roteiro infalível, fica vulnerável, e volta a ser aquela garotinha de 12 anos, que abraça com força o diário secreto, fica vermelha de vergonha e sai correndo, antes do maremoto. Se tranca no quarto, em segurança, e escreve uma historia com final bem bonito, bem feliz, bem daquele jeito que ela acha que nunca vai conseguir realizar de verdade.

Será?

"Eu sou uma contradição
E foge da minha mão
Fazer com que tudo que eu digo
Faça algum sentido"

(Pitty - Memórias)

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