segunda-feira, maio 19, 2008

Traduzindo pensamentos

"... Pára. Pára tudo.
Pára de cagar regra sobre como devo fazer o que faço. Pára!
Não me julga. Não me olha com pena nem desprezo. Você não pode me olhar com pena ou desprezo porque, sem saber, faz exatamente a mesma coisa que eu e conta que superou tudo na terapia. Yeah, right. Se tivesse superado, não precisaria dizer e acenderia o milésimo cigarro com ar de superioridade. Esquece, desce daí, te vejo aqui do meu lado, não quero saber se você é foda e lindo e se vai me dar mais uma chance. Se não der, não vai ser apenas problema meu, não é só virar as costas como quem desiste do restaurante porque é caro ou demorado ou porque o garçom botou o dedo no nariz. Somos dois. A merda foi minha, admito, me ajoelho, não consigo nem chorar porque seria ridículo e exagerado fazer isso na sua frente. Mas conto. Digo que chorei, e chorei mesmo, choro doído, travado, com pessoas de voz aguda que me olham de cima a baixo na casa escura e enorme e gelada e cheia de morangos e comidas e pessoas e longe de você.
Longe nada. Longe é agora, longe é quando você ignora minha tentativa
de redenção. Fui pra te ver. Vou de novo, desisto de tudo, talvez me arrependa mas desistiria de tudo, trabalho, braço, perna, mão. Eu quero você. Mas não tenho, não vou ter porque você fugiu com a maldita garrafa de vodca. Vodca. Bebida. Sou mesmo uma idiota, adolescente descontrolada que fez a maior merda, a coisa mais errada, escolhida inconscientemente a dedo para tornar tudo mais difícil e irreversível e dolorido, porque o drama me move, me mexe, me empurra pra frente ou pro lado ou pra cima ou pra onde quer que eu tenha que ir. Dez dias me tiraram cinco anos em minutos. Dez dias duraram meses. Dois dias duraram meses. Cinco anos duraram meses e voltei ao ponto de partida. O que posso fazer agora além de esperar sentada, comportada, com as pernas cruzadas e um cigarro na mão? Nada. Esperar. Não adianta correr porque você é mais rápido. Sentada esperando, quem diria. Foda-se o drama, eu quero você. Me diz como. Me diz logo. Eu quero você.
Não adianta, ele quer tempo. (...) Homens, eu os amo mas eles fodem com a minha cabeça. Não entendo. Entendo, claro. Mas não entendo. Ou entendo e quero tornar as coisas mais fáceis e perdoáveis para mim mesma. Argh. Preciso é dar um jeito de arrumar o caos que eu sou."

(Clarah Averbuck *reverência* em Máquina de Pinball)

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