quarta-feira, dezembro 26, 2007

Tu divagas

Tem horas em que não te reconheço. Te procuro, e sei que quando procuro, te acho. Fica ali, meio escondidinho, calado, mas queria tanto achar sem precisar procurar. Deve ser assim comigo também. Deve ter alguma hora em que você me olha e não me encontra ali. Deve ter um momento de estranhamento, mesmo que sejam segundos, mesmo que sejam rápidos instantes... Aconteceram alguns ali naquele carro. E agora estamos meio longe, apesar de tão próximos. Será que você está sentindo a minha falta também? Tem horas que agradeço aos céus a chance que temos de nos recuperar de nós mesmos. De parar pra pensar no que se deseja, no que se espera. Eu me avalio e você se enxerga melhor assim. Amo ter saudades dos seus olhos tranquilos, da sua voz sempre firme, da segurança que você me passa, da calma, da certeza de estar sempre ali, mesmo diante de pias lotadas de louças engorduradas, diante de corredores abarrotados de pessoas consumistas, diante de silêncios constrangedores frente a seres que nem tenho tanta certeza se valem a pena mesmo. Você, sempre você. Talvez os outros nem valham mesmo a pena, e quem sou eu pra ficar questionando o valor de alguém? Não. Não. Mas eu sinto tanta falta das suas palavras-abraço. Aquelas que sempre me acolhem. E senti tanta falta de um beijo, quando você saiu do carro. Ficou um beijo ali, no vácuo, quando olhei pra trás e vi sua mochila azul indo embora, cada vez mais longe. E fiquei pensando se você ia se cuidar, se ia comer, se ia tomar remédio na hora certa, e fiquei pensando em quem ia pentear seus cabelos depois do banho e todos aqueles sentimentos extremamente maternais que eu costumo cultivar. E nem é só com você. É um desejo de cuidar mesmo, fazer o que? Quase não consigo evitá-lo. Nem quero. E aqui estou eu diante desse computador frio, sozinha, embora acompanhada, solidão dos piores tipos, pensando na minha vidinha vazia. Cheia de probleminhas chatos que eu nem sei como começar a resolver. Maldito cheque, de onde ele veio? Maldita música a que vem do computador vizinho, que me irrita e me tira a concentração. Maldito almoço ruim de sempre. Maldita gente vazia de alma, de espírito, de conteúdo. Tô meio cansada. Pensando em como passa rápido o tempo, em como os dias simplesmente se esvaem, as horas vão embora... E cada vez que o pequeno chamava por você naquele carro era quase como uma punhalada. Me destruía. E os pensamentos vão surgindo mesmo sem sentido, mas talvez você encontre algum, porque até que você é bom nisso, sempre foi. Difícil a falta da despedida. Essa timidez não deixa que você seja a mesma pessoa sempre, apesar de eu saber que você continua ali. E que importa? Não deveria, mas dá certo incômodo. Não me importo com o que eles acham, mesmo, mesmo. Não me importo com o que ninguém pensa, mas quero linearidade. Quero que você seja sempre o mesmo comigo, estando diante de quem for, da forma que for, onde for. Só isso. Algo que me passa pela cabeça. Assim, agora, do nada. Acho que é por isso que estou meio estranha. Trabalhemos nisso. Também tenho tanto a trabalhar. Tenho real consciência disso. A gente vai dando um jeito, né. Em tudo. Foi tão bom até agora, e ainda deve ser melhor. Vai ser. Só sinto saudades e não gosto de não ter como dizer. Eu tenho, né. Mas sei lá. Tenho a impressão que você não gostaria. Deixa. Mantenho aqui meus pensamentos, que é mais seguro, e a gente vê se resolve isso tudo mais dia menos dia, né... Pelo menos essa distância é mais tranquila, menos assustadora, menos desesperadora. Desculpa não escrever com coerência, é pedir demais de mim. Sempre achei que seria mais fácil começar a escrever o quanto antes, mas sei lá, de repente dificulta algo. Os pensamentos girando devem atrapalhar a ordem das coisas e a minha compreensão fica meio alterada. Estou me sentindo em análise. Ainda bem que você já conhece o processo e é possível que não te apavore. Possível. Por favor, não se apavore, que nada é pra já, meu bem. Nosso amor não tem pressa, né? Ai ai, que maluca. Insana. Não daquele tipo de insana descrito antes. Outro tipo. Mas tá aí, espero que a gente se reconheça mais instantaneamente, e que possamos permanecer os mesmos um com o outro mesmo diante de quem quer que seja, e que as despedidas sejam mais trabalhadas, e sentidas, e acho que por enquanto é isso aí, daqui uns 15 minutos escrevo outra bíblia. Ou não.

Nenhum comentário: