segunda-feira, novembro 05, 2007

Cabeças de alfinetes

"Mais uma vez, em suas hesitações confusas, o que a tranqüilizou foi o que lhe tantas vezes servia de sereno apoio: é que tudo existia, existia com uma precisão absoluta e no fundo, o que ela terminasse por fazer ou não fazer não escaparia dessa precisão; aquilo que fosse do tamanho da cabeça de um alfinete, não transbordava nem uma fração de milímetro além do tamanho da cabeça de um alfinete: tudo que existia era de uma grande perfeição. Só que a maioria do que existia com tal perfeição era tecnicamente invisível: a verdade clara e exata em si própria, já vinha vaga e quase insensível à mulher."
(Clarice Lispector - "Uma aprendizagem, ou O Livro dos prazeres")

É exatamente por isso que eu parei de tentar ficar buscando palavras que descrevessem, que explicassem. Ficaria difícil escapar da obviedade. E obviedade certamente não combina com o que quero dizer. Está lá, oras, que fazer? Já não é mais invisível, porque eu fiz aparecer. Melhor atitude que já tomei nessa vida. A melhor. Tomei-me de coragem. Tornei-me coragem. Até que não doeu tanto assim. E depois... Que suspiro! Que frescor, sinto agora. Revigorada... Os sintomas são um caso a parte. Deixe-os aqui, me lembrando que estou viva. Mas as medições, as explanações, as explicações... Estou meio cansada delas. De nada servirão agora, e nem depois. Quero escrever sem fazer sentido mesmo, ou fazendo um sentido só. É necessário agora. Ter sentido só para quem sabe ler. E mesmo sem as explicações, tudo continua existindo. Não tão milimétrico como uma cabeça de alfinete, mas ali está, e permanece, e permanecerá. Paguei minhas dívidas, não paguei? Agora me deixem aqui, com esse aviso enorme de "Não Perturbe" na porta. Descobrindo que por mais que a gente ache que está sempre preparada pro que der e vier, tem horas que simplesmente não está. Não está e pronto. E vai ser louca de questionar uma verdade dessas?

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