quinta-feira, março 20, 2008
Roda Gigante
Me sinto sozinha e isso ofende as pessoas. Elas acham que não bastam mais. É mentira. Porque independe. É uma sensação tão particular que acho que me sentiria só no meio de uma multidão inteira. E é egoísta pacas esse meu sentir, assim como é a ofensa alheia diante da minha solidão. Em geral, quando as pessoas me vêem sentada aqui diante desse computador, penteada, uma maquiagem bem feita disfarçando as olheiras, rímel nos olhos, camiseta do Radiohead e um crachá pendurado no pescoço, com meu nome escrito e uma foto sorrindo, elas não acham que é assim. Não acham que a solidão me consome. Nem sequer sonham o quanto tá doendo aqui dentro. Não conseguem entender como funciona aqui. Se eu exteriorizasse, talvez elas se assustassem. Então fico na minha. Cumpro meus prazos, atendo meus telefonemas, escrevos meus textos sem graça (os do trabalho sempre são), sorrio esporadicamente e nos intervalos vou dissecando as sensações. Não tenho vontade de chorar agora. Chorei muito ontem, muito mesmo. De soluçar, perder o ar, engasgar, uma dor tão grande. Parecia que ela era maior que eu. Foi bom até, parece que dormi mais leve. Mas ainda não foi tudo embora. Vez ou outra, a nuvem surge, me envolve, me carrega pra dentro dela. Escurece tudo, parece. E depois passa. Vai embora quase que da mesma forma de veio. Tem muito a ver com rejeição e com eu esperar demais das pessoas todas. Tem a ver com a comparação que eu faço sem raciocinar. Comparo a vida feliz dos outros. Mas ninguém é sempre feliz o tempo todo. Não mesmo. Não é assim que funciona. E eu sei disso. Mas esqueço quando parece que todo mundo consegue e eu vou ficando pra trás, acenando, admirando, aquela ceninha antiga da roda gigante. Parece que todo mundo está lá se divertindo, sendo feliz, namorando, comendo maçã do amor, rindo, e eu fico aqui do lado de fora esperando a minha vez de entrar na brincadeira. Tenho a impressão que quando eu sentar no meu banco vai acabar a luz. Clic.
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