quarta-feira, dezembro 12, 2007

Sete

"Corre a lua por que longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
...E eu trocaria a eternidade por esta noite...

Por que está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se pôr
Por que está amanhecendo
se eu não vou beijar seus lábios quando você se for...?"

(Nando Reis - Relicário)

Sentaram-se no chão da rodoviária mesmo. Na verdade, ela não estava mais se importando com o lugar. Precisava urgentemente começar a assimilar o fato de que eles estariam fisicamente separados daqui em diante, e sabe-se lá por quanto tempo. E faltava tão pouco. Uma hora. Uma hora para subir novamente naquele ônibus e voltar ao mundo real.

Quando estavam sozinhos, tudo parecia andar mais lento. Ela se lembrava do quanto foi demorada a última hora de viagem antes de encontrá-lo. Simplesmente os minutos não passavam, a ansiedade era tão forte. Mas quando estavam juntos as horas passavam voando, por mais que eles tentassem fazer o tempo parar de vez em quando. Bem diante deles, um gigantesco, insensível e implacável relógio fazia questão de lembrá-los da passagem de cada segundo.

E o que era afinal o tempo, uma medida, uma padronização, um lapso um período determinado, mas por quem, por que, pra que? Não. "...Temos nosso próprio tempo...", ele sabia disso também. Para eles, 24 horas poderiam durar 20 minutos. Ou um dia poderia durar séculos. Puras convenções, afinal. Mas estavam sujeitos a elas, infelizmente, mas felizmente havia ainda algum tempo para olhar para ele, encostar a cabeça no ombro dele e deixar-se abraçar. Havia tempo ainda para beijá-lo e para tentar guardar em algum lugar aquelas sensações todas, aquelas impressões todas, infinitas percepções.

Dividiam os fones e uma história agora, e ela estava prestes a ser interrompida. Está bem, não era uma interrupção. Era uma pausa. Estariam pausados agora, pelo menos naquele estado. Maldiziam o pobre relógio, que nem tanta culpa assim tinha.

E quando não puderam mais evitar, quando não tinha mesmo mais jeito, desceram as escadas, e seguiram pra plataforma de embarque. Ela iria primeiro. Um abraço, forte, e ela sentindo que ele não gostava muito dessa história de despedida. E então soltou as mãos dele e com grande tristeza simplesmente foi.

Olhou pra trás alguns segundos, mas não voltou mais. Subiu e seu coração partiu ao meio. A outra metade ficou lá fora, sentado, sério, com o pé num banco. E teve tanto medo de perdê-lo naquele momento, que quase desceu correndo as escadas de novo. Mas não podia. Ficou olhando pelo vidro enquanto ele se levantou e foi embora, também sem olhar pra trás. Era tão difícil de saber o que se passava naquela hora. Teve vontade de chorar, de gritar, de não ser tão covarde, de não se preocupar tanto com o que os outros achavam.

E foi então que o celular dela tocou. Era ele, e ela sabia disso antes mesmo de atender. Sorriu, um pouco mais aliviada, e trocaram mais algumas palavras de carinho. Não sabia mais como fazia pra ficar sem ele, mas teria que aprender, e rápido. E assim, como se não significasse nada, o ônibus simplesmente foi embora. Ele agora era ausência, banco vazio ao lado dela. Não queria mais música nenhuma, sem ele. E não queria afago nenhum que não fossem os dele. E era só ele que ela queria. E como doía, como doía...

"...Eu não queria ir assim...
Tão triste, triste...
Como vai ser ruim demais
Olhar o tempo, ir
sem ver os seus abraços,
seus sorrisos
ou suas rimas de amor..."

(Los Hermanos - Assim Será)

"...A voz do outro, a respiração do outro, a saudade do outro, o silêncio do outro. Sim, afligia muito querer e não ter. Ou não querer e ter. Ou não querer e não ter. Ou querer e ter. Ou qualquer outra enfim dessas combinações entre os quereres e os teres de cada um, afligia tanto..." (CFA)

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